Resumo Comparativo das Propostas de Reforma Eleitoral – UNITA vs MPLA

Share on Social Media

Por Friends of Angola                                                                                                                                           14 de Maio de 2025

 

  1. Registo Eleitoral (Lei n.º 21/21)

 

UNITA:

  • Mudança institucional: Propõe retirar a responsabilidade do Registo Eleitoral do Ministério da Administração do Território (MAT) e transferi-la à Comissão Nacional Eleitoral (CNE).
  • Racionalidade: Argumenta que o MAT, sendo parte do Executivo, carece de independência, o que compromete a confiança no processo.
  • Proposta técnica: Defende a manutenção do registo oficioso (automático e contínuo), mas com gestão por uma entidade tecnicamente credível e eleitoralmente imparcial.
  • Objetivo: Reforçar a confiança dos cidadãos e a legitimidade do processo eleitoral.

MPLA:

  • Manutenção da estrutura atual: Defende que o MAT continue responsável pelo registo, considerando sua capacidade administrativa e capilaridade nacional.
  • Supervisão técnica: Argumenta que a CNE já exerce função de supervisão e fiscalização, e que essa separação garante eficiência operacional.
  • Narrativa dominante: O modelo atual funciona e mudanças radicais são desnecessárias.

 

  1. Organização e Funcionamento da CNE (Lei n.º 12/12)

 

UNITA:

  • Reestruturação completa: Propõe uma CNE mais independente, plural e isenta de controlo partidário.
  • Nomeações: Defende que os comissários sejam indicados por órgãos independentes, como associações de magistrados, universidades e sociedade civil.
  • Natureza do órgão: Pretende transformar a CNE de um órgão administrativo em um órgão jurisdicional, com maior autonomia e poder de decisão final.
  • Finalidade: Evitar a subordinação política e garantir imparcialidade na organização das eleições.

MPLA:

  • Manutenção do modelo atual: A CNE deve continuar com composição baseada na proporcionalidade parlamentar.
  • Justificativa política: A presença dominante do partido no poder (via maioria parlamentar) na nomeação dos membros é vista como expressão da soberania popular.
  • Postura institucional: Apoia o modelo híbrido atual – técnico, mas com representação dos partidos com assento parlamentar.

 

  1. Lei das Eleições Gerais (Lei n.º 36/11)

 

UNITA:

  • Transparência e controlo social:
  • Propõe afixação obrigatória dos resultados nas assembleias de voto.
  • Defende transmissão em tempo real dos resultados diretamente dos centros de votação para a CNE.
  • Simplificação do voto: Sugere o uso de boletins mais claros e objetivos, para facilitar o entendimento do eleitor.
  • Apuramento local: Propõe descentralizar a contagem e o apuramento dos resultados para evitar manipulações.
  • Revisão dos mecanismos: Questiona o modelo de centralização do apuramento final em Luanda, propondo que o escrutínio seja feito de forma mais aberta e participativa.

MPLA:

  • Defesa do modelo vigente:
  • Apoia o apuramento centralizado feito pela CNE a partir dos dados recolhidos pelas comissões provinciais.
  • Estabilidade institucional: Argumenta que o atual sistema garante ordem, fiabilidade e evita conflitos pós-eleitorais.
  • Ceticismo quanto à descentralização: Considera que alterações drásticas poderiam comprometer a organização técnica do processo e criar margem para instabilidade.

 

Principais pontos de divergência entre a proposta do Executivo (MPLA) e a da oposição (UNITA)

 

  1. Documento de Identificação para o Voto

MPLA:

  • Propõe que o Bilhete de Identidade (BI) seja o único documento válido para votar em Angola.
  • Cidadãos no exterior deverão usar o passaporte.

 

UNITA:

  • Considera a proposta inviável, pois:
  • A maioria dos eleitores utiliza o Cartão de Eleitor.
  • Segundo dados oficiais, muitos cidadãos não possuem BI.
  • O Governo não consegue emitir BI em larga escala.
  • Risco: A medida pode excluir milhares de eleitores.

 

  1. Atas-Síntese nas Assembleias de Voto

MPLA:

  • Propõe a eliminação das atas-síntese nas assembleias de voto.
  • Justifica a medida como forma de simplificar o processo de apuramento.

 

UNITA:

  • Rejeita a proposta, defendendo que as atas-síntese garantem transparência local.
  • Propõe reintegrar os centros de escrutínio provinciais como forma de supervisão descentralizada.

 

  1. Introdução das Mesas Móveis

MPLA:

  • Pretende implementar mesas móveis para alcançar eleitores em áreas de difícil acesso.

UNITA:

  • Opõe-se à proposta por considerar que mesas móveis foram usadas para fraudes em eleições anteriores.
  • Argumenta que o modelo reduz a confiança no processo eleitoral.

 

Conclusão

Apesar de Angola se apresentar formalmente como uma democracia multipartidária, as propostas de reforma eleitoral apresentadas pelo MPLA tendem a perpetuar mecanismos de exclusão política que evocam práticas históricas de regimes autoritários. Em particular, podem assemelhar-se a sistemas como o dos Estados Unidos no período da segregação (fins do século XIX até meados do século XX) e ao regime do apartheid na África do Sul (1948–1994), ambos marcados pela marginalização sistemática de parcelas significativas da população.

Por outro lado, a UNITA propõe uma reforma substancial e estruturante do sistema eleitoral, centrada na promoção da transparência, da independência institucional e de uma maior participação cidadã no processo democrático.

O confronto entre as duas visões evidencia uma tensão profunda entre a centralização do poder e a democratização do sistema político, refletindo caminhos distintos para o futuro da governação eleitoral em Angola.

 

 

 

 

 

 

 

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *

To raise global awareness of the challenges facing Angola while promoting democracy, human rights, and good governance.

EIN: 46-5589509

© 2025 All Rights Reserved | Friends of Angola