A Escalada da Violência Pré-Eleitoral em Angola: Sinais de Alerta a Dois Anos das Eleições Gerais de 2027

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Por Florindo Chivucute

Luanda, June 2, 2025

A menos de dois anos das eleições gerais de 2027, Angola já vive uma preocupante intensificação de atos de intolerância política e violência contra militantes e figuras da oposição. Os episódios recentes indicam que o ambiente político está a deteriorar-se, ameaçando a frágil convivência democrática conquistada após décadas de conflito.

No dia 28 de abril de 2025, um trágico caso de violência abalou a comunidade política nacional: o secretário da UNITA no Sequele foi assassinado a queima-roupa dentro de sua própria residência, na calada da noite. Segundo o portal Angola24Horas, testemunhas relataram que os agressores arrombaram a porta da casa da vítima e dispararam contra ele sem aviso, num ato amplamente interpretado como mais um crime de intolerância política.

Poucas semanas depois, a 29 de maio de 2025, outro ataque violento foi perpetrado no município da Ngalanga, província do Huambo, contra uma delegação da UNITA liderada por figuras de destaque, entre elas o General Apollo Felino Pedro Yakuvela. A comitiva foi brutalmente atacada por um grupo de mais de 150 indivíduos identificados como militantes do MPLA, armados com paus, pedras e catanas. O incidente, ocorrido a poucos metros do Comando Municipal da Polícia Nacional, deixou pelo menos sete feridos e resultou no desaparecimento de um membro da delegação. A visita havia sido previamente comunicada às autoridades provinciais e municipais.

Esses atos de violência não são casos isolados nem exclusivos deste ciclo eleitoral. Angola carrega um histórico de repressão política que remonta às eleições de 1992, quando milhares de apoiantes da UNITA foram perseguidos e mortos em Luanda e noutras províncias após o colapso do processo eleitoral. Em 2017, relatos de confrontos violentos entre simpatizantes do MPLA e da UNITA surgiram em Benguela, Huambo e Cuanza Sul. Já no pós-eleitoral de 2022, observadores da União Europeia e da sociedade civil angolana denunciaram a repressão de manifestações pacíficas, detenções arbitrárias de ativistas e intimidação de observadores eleitorais, sobretudo em bastiões da oposição como Cacuaco, Viana e Bié.

O padrão é recorrente: um Estado que não se comporta como árbitro imparcial, forças de segurança instrumentalizadas para proteger interesses partidários e uma cultura política ainda enraizada na lógica do partido único. O caso de Ngalanga expõe não só a brutalidade dos agressores, mas a cumplicidade – ou negligência – das autoridades que falharam em prevenir o ataque, mesmo estando a poucos passos do local da ocorrência.

Essa escalada de violência confirma a fragilidade das instituições democráticas angolanas e a ausência de um compromisso real com eleições livres, justas e seguras. Quando militantes da oposição não podem circular livremente, visitar comunidades ou realizar atos públicos sem temor de agressões, a democracia deixa de ser uma realidade funcional e transforma-se num teatro político onde a repressão dita as regras do jogo.

A dois anos das próximas eleições, Angola está diante de uma encruzilhada. Pode continuar a enveredar pelo caminho da intimidação, da impunidade e da exclusão política — ou pode, com coragem e responsabilidade, abraçar de forma plena os princípios da pluralidade, do respeito mútuo e da igualdade de participação.

A democracia não se constrói com pedras e catanas. Não se alimenta da perseguição ou do medo. Onde há violência política, não há liberdade — e onde não há liberdade, não pode haver democracia.

 

Sobre o autor

Florindo Chivucute é fundador e diretor executivo da Friends of Angola (FoA), organização dedicada à promoção da democracia, dos direitos humanos e da boa governação em Angola e na região da África Central. Consultor, investigador e especialista em regimes de sanções internacionais, é licenciado em Governo e Política Internacional e mestre em Análise e Resolução de Conflitos pela Universidade George Mason, nos Estados Unidos. O seu trabalho destaca-se pelo envolvimento direto em iniciativas contra a corrupção, pela defesa da transparência institucional e pelo fortalecimento da participação cidadã em contextos de transição política.

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