Imagem: innovation-village
Por Radio Angola
Oshikango, Namíbia – O ex-presidente da Namíbia, Hifikepunye Pohamba, fez duras críticas ao Governo angolano após testemunhar a crescente presença de crianças angolanas que cruzam a fronteira sul para pedir esmola em território namibiano.
Em discurso durante um encontro comunitário na região de Ohangwena, Pohamba declarou:
“É lamentável ver crianças estrangeiras perambulando por nossas cidades pedindo esmola. Angola deve sentir vergonha de permitir que suas crianças atravessem fronteiras para sobreviver.”
As palavras do ex-chefe de Estado provocaram forte repercussão tanto na Namíbia quanto em Angola, ao exporem uma realidade humanitária alarmante que tem sido, até agora, ignorada pelas autoridades angolanas.
Crianças em busca de sobrevivência
Dezenas de crianças, muitas vindas da província angolana do Cunene, têm cruzado regularmente a fronteira para as regiões de Omusati, Oshana e Ohangwena, em busca de comida, moedas ou abrigo. Sem documentos e desacompanhadas, elas acabam dormindo nas ruas ou em mercados, expostas à exploração, violência e riscos à saúde.
Lideranças comunitárias e ONGs locais relatam que a situação se intensificou com a crise econômica e a seca prolongada no sul de Angola.
Crise com raízes profundas
A migração infantil forçada tem como causas principais:
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Pobreza extrema e insegurança alimentar;
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Falta de acesso à educação e saúde;
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Ausência de políticas públicas eficazes de proteção social e infantil em Angola;
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Desemprego estrutural nas comunidades rurais angolanas.
Apesar das ligações culturais entre os povos fronteiriços, a situação tem causado desconforto político e tensões sociais na Namíbia.
Apelo à responsabilidade
Para Pohamba, a responsabilidade é clara: “Angola é um país independente e soberano. Precisa cuidar das suas crianças. Isso não é aceitável.”
Organizações de direitos humanos afirmam que Angola, como signatária da Convenção sobre os Direitos da Criança, tem o dever de proteger seus menores de idade contra a migração forçada, a mendicidade e o abandono. Segundo especialistas, a falta de uma resposta coordenada das autoridades angolanas aumenta a sensação de negligência e descaso institucional.
Conclusão
As palavras de Pohamba ecoam como um alerta severo: a dignidade de uma nação também se mede pela forma como cuida dos seus mais vulneráveis. A imagem de crianças atravessando fronteiras para pedir esmola não é apenas uma tragédia social — é uma acusação silenciosa contra a inação do Estado.
Até que haja políticas concretas de proteção e inclusão no sul de Angola, a crise deve continuar. E com ela, a vergonha compartilhada entre governos e sociedades que não protegem suas crianças.