Rádio Angola (RA):Tivemos o privilégio de ouvir a Senhora Esperança Gonga, esposa do Professor Universitário e Escritor Domingos da Cruz.
RA: Apenas para informar os nossos ouvintes que, convidamos a Senhora Gonga para falar sobre a visita que ela e os familiares dos outros prisioneiros político também conhecidos como 15+2, efetuaram Quinta-feira, dia 23 do mês e ano em curso no Tribunal Constitucional.
Senhora Esperança nos pode dizer qual foi o resultado da visita, como decorreu a visita ao Tribunal Constitucional?
EG: Quase que sim, nós quando chegamos no Tribunal Constitucional fomos atendidos pelo Secretário chefe da Secretaria Judicial, que é o Senhor António Calado que tentou esclarecer-nos propriamente em que pé está o processo, ele apenas só fez a parte dele que é da Secretaria porque nós queríamos é saber para quando o fim destes processos, isso ele não conseguia nos dizer, entretanto exigimos que pudéssemos ser recebidos pelo Juiz Presidente do Tribunal Constitucional mas ainda assim sem sucessos, pelo facto de eles alegarem que é um processo Judicial e que as informações não podem ser dadas por partes, pelo facto dos arguidos constituírem advogados, entretanto essas informações têm de ser dadas pelo Advogados e não propriamente aos familiares.
Tentaram ali passar panos quentes, tivemos que fazer o nosso protesto sentando no chão novamente que era para ver se recebêssemos um esclarecimento, depois disso eles apareceram dizendo que o Juiz Presidente não podia nos receber pelas razões já evocadas acima e para não passar aquela imagem de que se ele nos atender esse processo venha ser de caracter político, então vamos é fingir que há separação de poderes e que o poder Judicial está a trabalhar e não propriamente misturar o Executivo-político com o poder Judicial, foi mais ou menos isso que tentaram nos explicar.
Obviamente, não tenhamos ilusões, eles veem aqui dizer que não vamos misturar as coisas é gozar com a nossa inteligência, eu pelo menos não acredito nisso, eu sei que aqui não a patavina nenhuma de separação de poderes, então não me veem dizer agora que vamos separar as coisas porque o Poder Judicial esta a trabalhar e que o político é político, deviam ter vergonha ao falar isso.
RA: Apenas para lembra os nossos ouvintes, na Quinta-feira, dia 9 de Junho, a Senhora Esperança Gonga e alguns familiares dos 15+2 presos Políticos aviam se dirigido ao Tribunal Supremo, nos pode falar mais um pouco sobre essa visita do dia 9 de Junho?
EG: Aquilo foi propriamente mais uma visita tal igual a outra, de mera conversa, mero bate papo, porque aquilo que eles conseguem falar na midia é o que falaram a nós também é passar panos quentes e dizer que está a trabalhar e que tão breve teremos notícias, respostas e tudo mais, tentando mostrar que eles são sérios e que estão a trabalhar, quando na verdade nós vimos que não é o caso, a começar nós vimos a injustiça da condenação, da detenção, esse pessoal não tem respeito nenhum pela pessoa humana, a nos causarem sofrimento, a gozarem com a nossa dor, satisfeitos com o que nós estamos a passar, só prova claramente que eles estão a marimbar pelo que está acontecer, caso contrário nem chegariam a condena-los ou pelo facto de depois haver essa condenação nesse caso o Acórdão da primeira instância, eles teriam de voltar a condição anterior que era a prisão domiciliaria e não voltar ou ir para cadeia, mas não, não é o que aconteceu, nós estamos aqui a ver que eles estão na cadeia, obviamente que não me venham agora a dizer que à separação de poderes, que estão a trabalhar, que estão a se justos e que estão a ser sérios, é uma brincadeira, no mínimo estão a gozar connosco.
RA: Senhora Esperança, quanto tempo durou a vossa visita no TC, no dia 23 de Junho?
EG: Nós chegamos la por volta das 10 horas e saímos de lá as 16 horas.
RA: E como é que foi a recepção, foram bem atendidos pelos funcionários do TC?
EG: em relação a isso foram profissionais, receberam-nos por acaso com respeito, só não gostamos da resposta apesar de que nós já estávamos consciente, preparados para receber qualquer invenção que viesse da boca desse pessoal, nós queríamos enfrentar, olhando nos olhos desse pessoal para ver até que ponto eles são malvados e até que ponto nós estamos a sofrer e eles a deletarem-se do nosso sofrimento, até parece Psicopatologia.
RA: Dando continuidade dessa questão das consequências da prisão dos 15+2, certamente por razões não claras e injustas, qual tem sido o impacto psicológico e financeiro na tua família Senhora Esperança Gonga, sei que vocês têm filhos, sei que o Professor e Escritor Domingos da Cruz certamente trabalhava tal como a Senhora trabalha, podes explicar aos nossos ouvintes para ter uma ideia das consequências que têm trazido a você e a tua família com essa prisão injusta do Domingos da Cruz?
EG: Sim, de facto são nefastas, do ponto de vista emocional nem precisamos aqui descrever porque nós por acaso tínhamos uma relação muito ligada, a família toda era muito ligada, entretanto acontecendo isso, nesse caso à uma desligação de relação entre Pai e filhos obviamente que a um declínio e é isso que esta a acontecer principalmente do ponto de vista emocional, neste momento eles já estão a ter um rendimento baixo na escola, porque ele auxiliava nas tarefas escolares dos filhos, dava o seu contributo como Pai, como chefe da família como líder, como amigo, como tudo, entretanto à esse declínio, as tantas eles perguntam onde está o Pai, quando é que ele volta, como é que ele está e por acaso ele tenta motiva-las de que ainda não perdeu a consciência, só pelo facto de que quando eu chego à casa eu lhes digo que o vosso Pai que eles chamam de maninho, o maninho disse que é para vocês continuarem a estudar é para não perderem o fio, a lógica porque vocês ainda são o futuro da vida, não é o futuro de Angola, ou da nação, eles continuam a crescer e a desenvolver do ponto de vista intelectual e físico para vida e não para Angola, nós não podemos ter muito esta História de que vocês são o futuro da nação, não, vocês são o futuro da vida, então isso está dessa forma a ir para trás, haver reticências, que deviam ser o futuro da vida e hoje já não conseguem ouvir essas palavras, já não conseguem escrever, acredita que a minha filha de 12 anos já escrevia histórias, tudo isso porque via o Pai a escrever livros obviamente que ela não percebia que era um livro praticamente científico ou político-social, ou crítica social do ponto de vista social, elas não percebiam isso, só sabiam que ele estava a escrever e elas também ficavam assim motivadas e escreviam histórias, fábulas entre outras que foram lendo pelo incentivo dos Pais e hoje são muitas coisas para fazer que as vezes não consigo dar conta do recado por ter muita coisa por fazer antes podíamos dividir as tarefas, hoje não consigo e neste momento do ponto de vista académico quem vai dar atenção a essas questões, se eu tenho que olhar até para ir a cadeia quando chego esto cansada, nem comer em condições em consigo, é muito chato, mas esse pessoal esta só a marimbar para isso, esta contente com o nosso sofrimento, estão até a brindar à nosso custo.
RA: A Senhora tem confiança na Justiça angolana?
EG: Confiança na justiça angolana, no sistema angolano eu não tenho, porque pode haver uma ou duas pessoas nesse sistema que podem dizer que esses têm razão, mas a maioria e que é o grande diz que eu é que mando, eles podem ter razão mas eu é que mando, você tem de ficar calado, esse pessoal que diz que eles têm razão fica aonde, perde a força toda, não têm poder nenhum, quando a maioria são os grandes decidem, mesmo que eles tenham razão eu tenho que continuar a manter a minha posição, nada vale por isso não confio muito, neste sistema angolano, podem dizer que não mas existe um ou outro bom, mas não, esse um e outro bom infelizmente no meio de tantos outro é uma amostra ínfima que não ajuda muito.
RA: Infelizmente estamos no final do nosso programa de hoje, gostarias de deixar alguma mensagem para os angolanos e para os familiares dos 15+2 incluindo, certamente, fico sem palavras para descrever o impacto emocional-financeiro e não só que tem estado a causar a essas famílias todas, sobretudo quando se trata de uma questão ou de injustiça, queria deixar uma palavra para terminarmos o programa de hoje?
EG: Quase sim, em relação a nós os familiares a única coisa que tenho a dizer é que tenhamos esperança e continuemos a lutar pelas injustiças que nos estão acontecer e que vão acontecendo à outras pessoas também, hoje só estamos a falar porque estamos a sentir na pele, porque são situações que já têm acontecido com outras pessoas só não saímos a ribalta porque não era connosco que estava acontecer infelizmente Angola é uma porcaria, é uma tristeza. Para mim é um sítio inexistente, então única coisa que peso à aos outros familiares é que tenhamos força coragem e a perseverança e muita luta pela frente, agora para esse sistema eu tenho é que dizer se pelo menos eles percebessem que ao adaptarem um comportamento eticamente obviamente se optarem por um comportamento eticamente aceite essa forma de agir deles vai ajudar a desaparecer ou a eliminar o sofrimento que eles têm causado nas pessoas, não valo falo só de nós. Que olhem para o comportamento ético-moral e vão perceber o quanto estão a ferir com os princípios é a única coisa que eu tenho a dizer.
Nós agradecemos mais uma vez a disponibilidade….
Oiça na íntegra, a entrevista conduzida por Florindo Chivucute: http://www.blogtalkradio.com/radioangola/2016/06/29/tenhamos-esperana-e-continuemos-a-lutar-pelas-injustias-esperana-gonga
Redação por: Adão Lunge
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