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Por DN/AFP

A polícia angolana entrou em confronto com manifestantes e deteve dezenas de pessoas quando milhares de pessoas saíram à rua em Luanda e noutras cidades para se manifestarem contra o aumento do preço dos combustíveis, e pela defesa das liberdades das associações e organizações não-governamentais.

Mais de 70 pessoas foram detidas na cidade de Benguela por atos de vandalismo, disse um porta-voz da polícia provincial aos meios de comunicação social locais. A polícia não deu informações sobre detenções noutras cidades, mas a agência Lusa reportou um número indeterminado de detidos na capital.

Em Luanda, uma forte presença policial patrulhou as ruas desde a manhã, antes de disparar gás lacrimogéneo para dispersar uma multidão que se tinha reunido na zona leste da capital, que contou também com o protesto das zungueiras, as vendedoras ambulantes que ficaram proibidas de exercer o seu ganha-pão.

As manifestações foram as mais recentes de uma vaga desencadeada pela decisão do governo cortar os subsídios à gasolina, numa altura em que a economia sofre com a queda dos preços do petróleo.

Organizadas por grupos da sociedade civil, as manifestações de sábado foram apoiadas pelos partidos da oposição, que numa declaração conjunta, na sexta-feira, afirmaram que a redução dos subsídios foi precipitada e não teve em conta o nível de vida dos angolanos.

As manifestações também se realizaram para protestar contra o “cerceamento das liberdades das associações e organizações não-governamentais”, ou seja, contra o projeto de lei do estatuto das ONG. Recentemente aprovada no parlamento com os votos do MPLA, o diploma prevê a criação de uma entidade estatal para “acompanhar e supervisionar as atividades e programas das organizações​.​​”​​​

Os responsáveis pelas ONG e outros ativistas criticam o que consideram ser um retrocesso nos direitos cívicos e nas liberdades de associação.

A oposição também criticou a reação pesada das autoridades aos protestos, afirmando que 11 pessoas foram mortas até agora.

Pelo menos cinco pessoas morreram no início deste mês, no Huambo, quando a polícia abriu fogo contra uma manifestação de motoristas de táxi e de motas que, segundo as autoridades, se tinha tornado violenta.

Angola é um dos maiores exportadores de petróleo da África Subsariana, a par da Nigéria, mas tem pouca capacidade de refinação. A decisão de cortar os subsídios tinha como objetivo reduzir as despesas do Estado, mas resultou em aumentos acentuados do preço dos combustíveis.

“A supressão dos subsídios permite ao governo poupar algum dinheiro”, disse a analista independente Marisa Lourenço. “Claro que também vem em má altura para a população, com a inflação alta a corroer o valor da moeda local.”

O kwanza começou a enfraquecer acentuadamente em maio, quando os preços do petróleo baixaram e os analistas dizem que o banco central deixou de o apoiar.

No último mês, a moeda caiu mais de 25 por cento em relação ao dólar.

Sob o comando do presidente João Lourenço, que foi reeleito para um segundo mandato no ano passado, o país tem-se esforçado por atrair investidores estrangeiros e diversificar a sua economia dependente do petróleo.

Mas as reformas ainda não se traduziram em melhores condições de vida para muitos dos 33 milhões de habitantes do país. O desemprego e a pobreza continuam a ser elevados. No início deste mês, João Lourenço demitiu o influente ministro da Coordenação Económica, Manuel Nunes Júnior, e substituiu-o pelo governador do banco central angolano, José Massano.

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